Se voce é jornalista ou estudante de jornalismo sabe que fazer uma matéria para rádio não é uma das tarefas mais fáceis. Como o ouvinte não tem imagens para acompanhar, tudo tem que ser feito de uma maneira bem leve e dinâmica para não ficar entediante. Além disso, quando se vai entrevistar alguma personalidade e voce chega com uma câmera profissional na mao isso impõe respeito sabe? Já quando se chega com um gravador velho de guerra na mao a boa vontade do entrevistado as vezes não é a mesma...
Era outubro de 2011. Acontecia em Recife mais uma Bienal do livro e claro isso faria com que tudo quanto é jornalista e estudante de jornalismo fosse convocado para fazer qualquer pauta sobre qualquer coisa por lá.
Meu professor de rádio na época dividiu a turma em duplas e fez com que procurássemos algum escritor no site do evento, pesquisássemos sobre ele e então ir para a Bienal entrevistar o cidadão.
Quando entrei no site do evento encontrei vários escritores que poderiam render uma boa entrevista mas a maioria iria falar em dias e horários que dificultavam a minha ida e da minha dupla. Enfim achamos alguém, a escritora especializada no público adolescente Thalita Rebouças. A tarde de autógrafos dela aconteceria em um sábado, então eu e o Dinaldo Cavalcanti nos preparamos para o que seria um dia daqueles.
Saímos cedo para o Centro de convenções (onde foi a Bienal) as 3 da tarde, mas não contávamos com um detalhe: A lei de Murphy. Justo naquele dia e horário a avenida Boa Viagem foi interditada para fazerem alguma coisa da qual não me lembro. Esse doce desvio de rota obrigou todos os carros a seguirem pela Conselheiro Aguiar, fazendo com que levássemos 2 horas e 30 minutos até que finalmente chegássemos em frente do local.
Agora já era 17:30hrs e já estávamos atrasados para a coletiva dela que começava nesse mesmo horário.
O estacionamento daquela coisa estava incrivelmente lotado, em parte porque tiveram a brilhante ideia de colocarem um show de brega-dos-inferno acontecendo do lado do Centro de Convenções. Isso fez com que escutássemos o funk das novinha tempo suficiente para deixar sequelas nas células de sanidade mental que eu acho que ainda temos.
Isso me obrigou a estacionar do lado de fora na mao dos flanelinhas que estavam entregando ticket cobrando por antecipação. E o valor era 10 reais.
Já era 17:40 e eu não tive outra escolha a não ser pagar e correr para poder entrar logo.
perdemos alguns minutos procurando o lugar em que se comprava ingresso ate perguntamos de vez a um policial que estava lá dentro....e que também não sabia onde era. Depois de rodar mais um pouco achamos o lugar então fomos comprar as entradas.
A Bienal é um evento gigantesco, e a maioria das pessoas não sabia nos indicar onde diabos estava acontecendo a entrevista com a Thalita. Quando finalmente encontramos o auditório já era 18:00 e escutamos isso do segurança na porta:
- Não podem entrar!
- O que?? Mas eu vim de Boa Viagem com meu amigo, precisamos entrevistar a Thalita para um trabalho da faculdade!!!
- Desculpe mas eu só estou seguindo ordens. Se quiserem esperar o fim da entrevista tudo bem mas aí será a hora dos autógrafos e vai estar cheio de gente...
O pior que ele tinha razão. Era um auditório lotado de meninas pré-adolescentes acompanhadas da mae.
Ainda sem acreditar que tinha perdido a coletiva dela decidi ir para uma lanchonete porque estava morrendo de fome. Paguei chiando 8,50 em uma coxinha mais uma coca-cola (a combinação mais cara que já consumi nesses 20 anos de existência) e decidi procurar algum outro escritor que estivesse por lá e pudesse conceder entrevista.
Encontramos outra dupla da nossa sala que nos informou sobre um escritor chamado Antonio Prata e que estaria divulgando o livro dele dentro de alguns minutos. Não tive duvida, corri para o local, peguei meu smartphone, entrei na internet e pesquisei tudo que podia sobre o cara, anotei perguntas, preparei o gravador e fiquei a postos.
Quando ele terminou de falar liberou para a imprensa, então corri para ser o primeiro a entrevista-lo. Liguei o gravador e fiz varias perguntas, ele respondeu muito bem e acabei me tornando fa do cara! Assim que terminei a entrevista voltei pro meu colega e foi ouvir o que tinha gravado para ver se tinha ficado bom.
Nesse momento quase tive um ataque do coração.
De alguma maneira eu não apertei no botão de gravar direito e por isso nada foi gravado daquela maravilhosa entrevista...
Na hora do desespero decidi ligar o gravador de novo e na cara de pau esperar com ele ligado que o escritor terminasse a entrevista com alguém, quando ele se virasse eu já engatava outras perguntas que fui formulando na hora. Dessa vez deu certo, a entrevista não ficou tao legal quanto a primeira mas foi o suficiente para o que precisávamos.
enquanto estávamos saindo fomos conversando com a outra dupla sobre o evento.
Eu: Caramba que correria hoje, e o pior foi que tive que pagar 10 reais pra botar o carro la fora com o flanelinha e mais 10 reais para entrar na Bienal
Menina da outra dupla: Oxe porque? Quem é da imprensa entra de graça po, e tu ainda tinha vaga aqui dentro pra colocar o carro em um lugar diferenciado!
E esse foi o dia em que eu não conheci a Thalita Reboucas...